28/04/2008

ESAÚ DA SILVA SANTOS
"O EXEMPLO DE VIDA DE UM FUTURO MÉDICO"
Jovino Fernandes
Esaú da Silva Santos, 17 anos, ex-aluno da Escola Pública, estudante do primeiro período de medicina, um guerreiro. Ele mora na zona rural de Jaboatão dos Guararapes, onde a condição de vida é precária. Na casa onde mora Esaú, não existe água encanada, as camas são improvisadas e a comida, às vezes, falta. O jovem sai de casa cedinho e anda 40 minutos para pegar um ônibus. O destino é a faculdade de medicina da Universidade de Pernambuco (UPE).

“Eu sempre soube que é difícil, a gente que vem de escola pública sem uma preparação boa, conseguir passar no vestibular. Mas nunca liguei para dificuldades, sempre enfrentei, confiei em mim. Por que se a gente não confia, ninguém vai confiar na gente”, diz o estudante.

É numa casa simples, na área rural de Jaboatão dos Guararapes, que há três anos e meio vivem o jovem, o irmão Jacó, a mãe, dona Rejane, e o pai, seu Severino, um pequeno agricultor.

“Nós temos plantado cana e bananeira. Sabemos que cana não é alimento e sim um substituto... após a refeição. Então nós plantamos um pouco, quando nós não temos o que dar de manhã, como primeira refeição nós daremos um pouco de caldo de capa para em seguida o menino ir para o colégio”, diz o pai de Esaú, Severino Santos.

A mãe do jovem estudante, Rejane da Silva Santos, divide o tempo entre as atividades domésticas e a venda de produtos por catálogo. Ela é a única fonte de renda da família. Apesar das dificuldades, Rejane sempre incentivou os filhos Esaú e Jacó a buscarem uma profissão.

“Eu sempre aconselhei que eles se preocupassem em fazer um curso superior. Eu não queria que eles parassem só em escola técnica, não. Quando alguém falava em escola técnica eu dizia ‘Não, eu quero vocês na faculdade. Quero que vocês façam um curso superior’. Então eu sempre valorizei a educação. Diante de todas as dificuldades a educação sempre foi a prioridade”, afirma Rejane Santos.

Dona Rejane e seu Severino sempre foram inspirações para a conquista de Esaú e Jacó.

“Minha mãe foi o estímulo, o apoio. Foi ela que nos ensinou a ler logo cedo, tanto eu com o meu irmão, e sempre fomos aplicados nos estudos. Ela nos sempre nos incentivou. Meu pai nunca nos colocou para trabalhar, ele sempre deu tempo para nós estudarmos com muita tranqüilidade e silêncio. Apesar das dificuldades, eles nunca ficaram dizendo que isso era um empecilho para nós. Eles nos disseram que tínhamos o poder de mudar essa realidade”, diz Esaú.

Jacó, depois de duas tentativas no vestibular, está estudando Serviço Social na Universidade Federal de Pernambuco.

“Aqui em casa nós tivemos um bom suporte afetivo, não chegaram a fazer essa cobrança por eu não ter passado no primeiro vestibular, pelo contrário, me incentivaram a tentar de novo. Eu agora me sinto muito orgulhoso de dar esse presente para quem tanto me valorizou e investiu em mim, no caso, meus pais e meu irmão de quem eu tanto gosto”, afirmou Jacó.

Os irmãos dividem o mesmo quarto e têm a cama e o guarda-roupa improvisados. Também vivenciaram juntos as dificuldades para se prepararem para as provas.

“A energia daqui é fraca e não dá para estudar à noite porque as lâmpadas que a gente tem são incandescentes e, de noite, elas ficavam iguais a candeeiros. O que a gente mais enfrentou foram as necessidades físicas e também uma carência de material para estudar realmente. Quando já mais próximo do vestibular, a gente já tinha alguns livros”, lembra Esaú.

Ele também participou do Projeto Vestibular do PE 360 Graus. “Todo o projeto da Rede Globo eu acompanhei. Participei do aulão, do simuladão, inclusive fui o segundo lugar entre os alunos do Rumo à Universidade e também fui primeiro lugar na escola pública apoiado pela Rede Globo. O que mais valeu foi a avaliação do simulado porque a gente sempre se prepara mais para estudar, dar o nosso melhor", diz o futuro médico.