HONESTIDADE
Cristina Fam
POR QUE ALGUEM QUERERIA SER DESONESTO? É uma questão provocativa com que o satírico irlandês Jonathan Swift confronta o leitor em a “A viagem a Houyhnhnms”, nas Viagens de Gulliver. Os houyhnhnms são criaturas tão racionais que acham a desonestidade incompreensível. Como um deles explica a Gulliver, “o uso da fala é para as pessoas entenderem e para receber informações sobre os fatos; se alguém dissesse a coisa que não é (a esquisita locução dos houyhnhnms para se referir à curiosa pratica de dizer mentiras), essas finalidades não são cumpridas”.
A desonestidade não teria papel nenhum a desempenhar num mundo que reverencia a realidade e é habitado por criaturas totalmente racionais. Os seres humanos, porém, não são totalmente racionais, como Swift adorava apontar. Os humanos, ao contrário dos houyhnhnms, abrigam um conjunto disparado de tendências e impulsos que não se harmonizam espontaneamente com a razão. Os seres humanos precisam de anos, tanto de prática como de estudos, para se tornarem pessoas íntegras e de boa vontade.
“Odeio o homem que, como o Portal da Morte, diz uma coisa, mas esconde outra em seu coração: “Percorram as ruas de Jerusalém, procurem e observem! “Procurem nas praças, vejam se encontram um homem justo e que busque a verdade.” É a honestidade que o filosofo Diógenes procurou em Atenas e Corinto, numa imagem perene: “Com lampião e lanterna, à luz do sol, procurei um homem honesto, mas nenhum pude encontrar”, conforme uma narrativa do século XVII.
O LIVRO DAS VIRTUDES
WILLIAM J. BENNETT