31/12/2008

CHESF: NÃO MATE SEUS FILHOS.
Jovino Fernandes
Texto: Maria de Fátima Garcia Aragão da Rocha.
Hospital Nair Alves de Souza (Foto: Crédito: JRCSilva)
Mataram o POSTO MEDICO INFANTIL, COLEPA, ESCOLINHA, FAZENDA CHESF, MODELO REDUZIDO, ESCOLA ADOZINDO, ESCOLA MURILO BRAGA, ESCOLA ENGENHEIRO ALVES DE SOUZA, CLUBE OPERARIO, CINEMAS, CURSOS TECNICOS, OS LAGOS, OS JARDINS, AS PRAÇAS (quem se lembra da Praça 1.º de maio de onde saiam todos os desfiles de sete de setembro?), os monumentos, as plantas, o papa fila, os ônibus da CHESF que transportavam os trabalhadores e estudantes as nossas lindas cachoeiras e por fim, querem matar o filho teimoso, o resistente, aquele que teima em não se deixar matar o HOSPITAL NAIR ALVES DE SOUZA, onde quase todos nascemos, que não tinha UTI, mas tinha as assistências (ambulâncias), as parteiras, médicos, enfermeiros, atendimento odontológico, pronto socorro, serviços de ginecologia, internamento em pediatria, isolamento, tudo compatível com o chamado primeiro mundo.

Tínhamos tudo.

Mas, tínhamos tudo por quê? Porque a CHESF era boazinha? Era UMA MAE?Não, meus senhores... Tínhamos escola e saúde de primeiro mundo, porque a CHESF precisava dar educação e saúde de qualidade aos filhos dos engenheiros, médicos, professores, administradores e ao auto escalão da empresa e por extensão aos filhos dos marteleteiros, marceneiros, pintores, motoristas, guardas (O PIVO-AQUI A MINHA HOMENAGEM ESPECIAL), apontadores, garagistas, zeladores, escafandristas, cozinheiros, costureiras, sorveteiros e milhares de profissionais que pegavam no pesado e muitos destes perderam suas vidas tentando tomar o rio (QUEM AQUI SABE O QUE FOI A TOMADA DO RIO?), construírem os túneis, as comportas, instalarem as turbinas, gerar energia e fazer existir a Paulo Afonso que temos hoje.

Muitos arfam o peito para falar do muro da vergonha, o muro que dividia a CHESF da VILA POTY e esquecem de dizer que dentro da CHESF também existiu um apartheid, silencioso, imposto e imoral.

Com intuito de favorecer a minoria de funcionários que ocupavam funções “mais importantes”, ou de maior poder aquisitivo “em detrimento da maioria” dos funcionários que recebiam um salário miserável, as casas daqueles eram construídas com alpendres, varandas, salas arejadas, quartos espaçosos, quintais imensos com espaço de 100 metros entre elas, enquanto que, as destes eram casas geminadas, feitas em grupos de 10, 12 casas, conjugadas, com apenas uma entrada, sala que era cozinha, um ou dois quartos, banheiro fora da casa, pia de lavar roupa que era três em um: lavar roupa, pratos, dar banho nas crianças e fazer a higiene pessoal, como escovar dentes, com um pequeno cercado de ripas de madeira, que dividia os quintais.

Estas eram as casas TIPO “O”, na vila operaria os mais graduados, moravam no BAIRRO (ate hoje sorrio quando lembro de quantas vezes me perguntei o que seria BAIRRO?) e, tinha os intermediários que moravam em casas melhores, estas com banheiro interno, saída para os fundos, mais igualmente desconfortáveis, a chamada Quadra A, B, C....Z e as piores que seriam os “QUATRO GRUPOS”, no serrote, na beira da valeta. Para os filhos dos peões, dos cassacos, os pequenos e inocentes, que corríamos pelos becos, jogávamos queimada e rouba bandeira, bola no campinho o que existia eram os moradores da CHESF e os moradores da vila poty, que pejorativamente os da vila operaria apelidamos de “CATA OSSO” e durante muito tempo, acreditei que cata osso era fantasia de meninos, e lamentavelmente, não era, existiam as crianças, filhas de funcionários da CHESF sem casas no acampamento, ou desempregados, que não conseguiam uma casa na Vila operaria, que de fato catavam osso para vender aos caminhões que levavam para São Paulo e que a CHESF, todas as tardes, mandava um caminhão de pão doce para distribuir com aquela população carente.

Com o termino das construções das usinas, a CHESF no lugar de espelhar-se nas grandes empresas privadas a exemplo da Votorantin, Bradesco, Vale do Rio Doce, Usiminas e tantas outras que desenvolvem programas sociais gratuitos voltados para a população das cidades de onde retiram suas riquezas, esqueceu-se que ELA esta dentro de minha cidade e não o contrario e os homens que estiveram a frente da empresa, desde a sua fundação e ate a tentativa de desmonte total, quando o então Presidente da Republica Fernando Henrique Cardoso teve a intenção de dividir a CHESF em três empresas, para privatizá-la, a população de Paulo Afonso sabe quem esteve contra e quem esteve a favor, os que estiveram a frente ou não deste processo, que não foi avante, graças a Deus.

Não vou citar nomes de partidos, nem de políticos, apenas do Presidente da Republica pelo fato de aqui, estar a cidadã Maria de Fátima Garcia Aragão da Rocha, nascida no HNAS, criada correndo por entre os becos da vila operaria, nas tipo “O” ouvindo o ronco da cachoeira, sentindo o sereno da noite que os respingos da cachoeira chorava sobre a cidade e tornava o clima mais ameno e as noites mais frescas, cursou o primário na Escola Murilo Braga, 5.º ano e admissão na Escola Adozindo com a professora Dona Etelinda, ( eternamente LINDA), fez primeiro Grau e Curso técnico de Contabilidade no COLEPA.

Em minha opinião, a CHESF deve manter o HOSPITAL NAIR ALVES DE SOUZA, sob a sua responsabilidade, com atendimento de graça a toda a população de Paulo Afonso e cidades circunvizinhas (algumas destas cidades sumiram sob as águas por força da construção das usinas e desvios do Rio São Francisco) com atendimento medico odontológico de primeiro mundo, emergência, UTI, centro cirúrgico, banco de sangue e tudo que se faz necessário a esta região e ai, sim a CHESF poderá estampar nos corredores do HNAS em grandes cartazes e no peito de seus poucos funcionários que ainda restam e das terceirizadas que cada dia aumentam broches com a mais linda frase que vi, mas pelo direito e não pelo avesso : “HUMANIZAR PRA VOCE”.

Faço um apelo ao povo de Paulo Afonso e região, a cerrarem fileiras contra esta intenção de estadualização do hospital NAIR ALVES DE SOUZA, todos juntos, políticos, sociedade civil, estudantes, donas de casas, comerciantes, todos, sem exceção. O destino de um dos ICONES construído com o suor dos nossos pais e avos, vindos dos quatro cantos deste pais, especialmente da região nordeste esta por acabar e não podemos deixar esta catástrofe acontecer.Não permitamos que a exemplo do complexo escolar, restaurante, padaria, clubes, posto de saúde infantil, fazenda, Escolinha, CACHOEIRA gente, por Deus, Paulo Afonso, não tem mais as CACHOEIRAS, ACABARAM COM O QUE TINHAMOS DE MAIS BELO EM ATRAÇAO TURISTICA E BELEZAS NATURAIS, não apaguem nossa memória.

As pessoas que planejam esta imoralidade, com certeza já viajaram muito, pelo Brasil e exterior e devem ter visto que em cidades e países civilizados, as pessoas tendem a conservar a idéia de preservar memórias, guardar historias, conservar ate as pedras em seus lugares de origem, calçadas, janelas, alpendres, azulejos, para que seus descendentes tenham historias para contar e eu tenho historias para contar, muitas, muitas historias, porque o meu pai foi o pivô mais lindo que a CHESF contratou, chamava-se Raimundo Gomes de Aragão, matricula 1.194, pioneiro na construção de Paulo Afonso, mantinha guarda principalmente na guarita principal e tinha o habito salutar de me contar historias,historias, simples, de gente humilde, porem cheia de sentimentos; meu pai morreu na ativa aos 51 anos com 23 anos trabalhados na CHESF e minha mãe não teve direito a indenização, por opção dele, que não era optante do FGTS, mas poderia ter sido diferente se a CHESF, enxergasse nele um funcionário que era cardíaco, sem condição de trabalhar, mas não o aposentou.

Não apaguem minhas memórias, eu quero ter o prazer de minhas filhas e netos saberem de onde eu vim, onde nasci, por onde andei, onde estudei, onde fui feliz, brinquei, sorri, amei chorei, morri....Porque onde serei sepultada, eu sei, por obra de um italiano de nome Mario Lourenço Tori que nos deu esta dignidade e saibam todos que muitos dos meus contemporâneos e conterrâneos perderam o lugar de acender uma vela para seus mortos, seus pais, irmãos porque a CHESF acabou com o antigo cemitério que era situado ali nas imediações do Sal Torrado e cemitério, também faz historia, também merece respeito e conservação!

Maria de Fátima Garcia Aragão da Rocha.

E-mail: fagarciaaragao@hotmail.com

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