O jejum e a caridade que Deus espera que façamos
Texto: Francisco Assis Melo
(Foto: Crédito Divulgação - Internet)
Estamos vivendo os últimos dias do tempo litúrgico da Quaresma, da caminhada na qual vimos nos preparando na reflexão da Santa Palavra, no recolhimento em oração e na prática do jejum e da caridade, como atitudes penitenciais e de elevação espiritual, para o grande encontro com o Cristo Ressuscitado na celebração da sua Páscoa.
Estamos saindo do “deserto” no qual mergulhamos e partiremos, agora, rumo a Jerusalém, onde com Jesus adentraremos no próximo Domingo de Ramos, início da Semana Santa, e com Ele caminharemos na contemplação de seu sofrimento e morte na Cruz, para enfim participarmos de sua Ressurreição.
Antes, porém e nestes dias finais, urge que façamos, ainda no clima de interiorização espiritual, “o nosso deserto”, uma reflexão verdadeira sobre como experimentamos nossa preparação para nos assentarmos no banquete do Cordeiro para o qual somos convidados.
Cumprimos os preceitos penitenciais do jejum e da caridade, e fazemos nossas orações e somos ouvintes da Santa Palavra como os escribas e fariseus, de modo legalista, cumprindo a Lei, ou assumindo a atitude de cristãos?
O nosso jejum detém-se somente na abstinência total, ou de certos alimentos, conforme a lei e os preceitos religiosos, ou junto com este praticamos também a abstinência de palavras e pensamentos ofensivos dirigidos aos outros, dos sentimentos de mágoas e de rancores, de amargura e de tristezas, de ira, de orgulho, de soberba e de arrogância, sobretudo a abstinência de julgarmos os outros?
E nossas obras de caridade foram somente de dar esmolas, como os fariseus também o faziam, ou exercitamos o perdão e a misericórdia, manifestação maior do amor/caridade?
Nossas orações são gestos que reproduzem a atitude do publicano no Templo, reconhecendo-se indigno e pecador, ou do fariseu que se orgulhava de ser um homem justo, conforme a lei?
O amor misericordioso de um Deus que nos acolhe trazido à nossa reflexão na parábola do Filho Pródigo (Lc 15. 11-32), o fortalecimento na oração e na confiança no Pai como formas de combater as tentações (Lc 4. 1-13), a advertência contra a soberba de nos acharmos justos e os outros pecadores, no episódio do “julgamento” da mulher adúltera (Jo 11. 1-8), assim como os demais textos sagrados proclamados, com o objetivo de orientar nossa caminhada quaresmal e penitencial serviram-nos, realmente, como fonte de reflexão, despertando em nós o desejo de transformação de vida ou apenas os “ouvimos”, sem “escutá-los”?
São pontos sobre os quais devemos refletir, pois o tempo está próximo. Cumprir a lei e os preceitos sem a vivência do amor, da justiça, da misericórdia e do perdão podem até nos fazer fiéis seguidores de uma religião. Mas não nos faz cristãos e dignos de participar da Ressurreição de Jesus.