Morre Marinho Chagas, ex-lateral do Botafogo e Seleção Brasileira em 1974
Fonte: interiordabahia/ informação: Globo Esporte
Morreu na manhã deste
domingo (1º/06), em João Pessoa (PB), o ex-jogador Marinho Chagas, aos 62 anos,
lateral esquerdo potiguar que defendeu o Botafogo RJ e a Seleção Brasil, em
1974, na Copa do Mundo da Alemanha.
Para quem acompanhou o futebol ainda romântico e
total dos anos 1970 ao vivo, em vídeos ou até pelo Canal 100, a imagem era
clássica. Inesquecível. Bola pelo lado esquerdo. Seja na seleção brasileira,
onde foi o craque da Copa de 1974. Seja no Botafogo, camisa que mais vestiu e
exibiu sua técnica. Seja na terceira versão da máquina do Fluminense, em 1977.
Seja no São Paulo, onde foi campeão paulista. Seja no americano Cosmos de Pelé,
Beckenbauer, Carlos Alberto. Seja no ABC, onde deu os primeiros passos, era comum
ver as arrancadas de Francisco das Chagas Marinho. O Marinho Chagas.
O Marinho Bruxa, como era carinhosamente chamado.
Aquele dos longos cabelos louros que balançavam ao vento à medida que dava
velocidade às jogadas. Pinta de playboy, usava uma pulseirinha preta no pulso e
tinha um canhão, mas um tremendo canhão na perna direita. Era lateral-esquerdo,
mas era destro. E tinha também um furor incansável pelo ataque. Foi um dos que
melhor souberam avançar da defesa.
Na Copa de 1974, onde figurou na seleção dos
melhores, não teve medo do carrossel holandês de Cruyff & Cia. O Brasil foi
eliminado, mas o lateral não queria saber de censura. Partiu em direção ao gol
até o fim do jogo, e teve até problemas com o goleiro Emerson Leão por conta
disso. Marinho era tão ousado que, na estreia pelo Botafogo, jura ter tido
personalidade suficiente para dar chapéu em Pelé. Pois bem. Marinho Chagas, que
também teve problemas sérios com o álcool depois que parou de jogar, está
morto, aos 62 anos.
A informação foi confirmada na manhã deste domingo
pela família do jogador. Ele estava internado desde a tarde de sábado no
Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa, depois de passar mal num
encontro que participava com colecionadores de figurinhas de álbum de Copa do Mundo,
na capital paraibana. Ele conversava com uma pequena multidão, quando começou a
vomitar sangue e foi levado para o hospital.
Inicialmente, o ex-atleta foi levado para a Unidade
de Pronto-Atendimento Oceania de João Pessoa. E no local, foi diagnosticado com
"hemorragia digestiva alta". Como os médicos tiveram dificuldades
para estabilizar o quadro clínico do jogador
para estancar a hemorragia, ele foi transferido para o Hospital de
Emergência e Trauma, mais bem equipado para esse tipo de procedimento.
No Trauma, os médicos colocaram um balão no
estômago de Marinho Chagas, com o objetivo de estancar a hemorragia, mas ainda
assim seu quadro clínico permaneceu “muito grave”. E por este motivo ele foi
mantido sedado.
Por volta de 3h, ele não resistiu e morreu. Em
conversa com a família, os médicos disseram que o jogador chegou a tomar mais
de 10 bolsas de sangue, para repor a perda provocada pela hemorragia, mas que
nem isto foi suficiente para reverter o quadro grave que se instalou.
Confirmado o óbito, a Prefeitura de Natal já
informou que vai providenciar o traslado e o velório do ex-jogador. A promessa
é que ele seja homenageado em sua terra antes de ser enterrado.
Relembre a trajetória do jogador
Marinho Chagas nasceu em Natal, capital do Rio Grande
do Norte, em 1952. Começou a jogar futebol pelo ABC, onde foi campeão potiguar
de 1970, e ao longo da carreira também registrou uma passagem pelo arquirrival
América-RN. É idolatrado em sua terra natal e um mês antes de sua morte foi
homenageado com uma estátua de sete metros de altura, feita em sua homenagem
pelo artista plástico Guaraci Gabriel. Antes, em fevereiro, já tinha sido
homenageado com uma marchinha de carnaval, ao ser homenageado pelo bloco Jegue
Empacado.
Apesar de toda a fama que tem em sua terra, Marinho
brilhou mesmo foi no Rio de Janeiro, onde foi ídolo pelo Botafogo. Lateral
esquerdo tal qual Nilton Santos, ele foi o dono da posição no Glorioso entre
1972 e 1977. E muito por isso considerado o sucessor da Enciclopédia do
Futebol.
Título, inclusive, que muito honrava Marinho.
Quando Nilton Santos morreu em novembro de 2013, o potiguar se disse
"muito abalado" com a perda e resumiu de forma impactante o que
sentia pelo bicampeão mundial: “Figurar entre os melhores jogadores da história
do Botafogo é uma honra enorme, pois este foi o único clube em que o meu maior
ídolo jogou”.
Ele também se orgulhava de sua estreia pelo
Botafogo, justamente contra o Santos de Pelé. E dizia que logo no primeiro
lance roubou a bola do Pelé e deu um lençol nele. No seguinte, tocou entre as
pernas do Rei.
Jogou a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, em que
o Brasil terminou na quarta colocação, após perder da Holanda na disputa por
uma vaga na final e da Polônia na decisão de 3º lugar. Mas mesmo com a eliminação,
Marinho Chagas acabou sendo eleito o melhor lateral-esquerdo daquele Mundial.
Quando deixou o Alvinegro, em 1977, se transferiu
para o Fluminense, onde jogou por uma temporada. Mas, curiosamente, não ganhou
nenhum título de destaque por equipes cariocas.
O potiguar ainda teve a honra de jogar ao lado de
Pelé de Carlos Alberto Torres, quando ele foi jogar no Cosmos dos Estados
Unidos. No país, ainda jogou no Strikers.
Quando voltou ao Brasil, foi para vestir a camisa
do São Paulo. Brilhou na equipe paulista e conquistou em 1981 o título estadual
pelo Tricolor. Antes de se aposentar, ainda jogou por Bangu, Fortaleza e
Augsburg, da Alemanha. Mais recentemente, vinha tendo problemas com o consumo
de álcool, o que deixou sua saúde muito debilitada.
No ano passado, chegou a passar 10 dias internado
na UTI de um hospital de Natal, entre a vida e a morte, justamente por causa de
uma hemorragia digestiva. Na época, ele prometeu parar de beber para estar vivo
na Copa do Mundo do Brasil, que começa daqui a 11 dias.
Ao longo desta última semana, contudo, estava bem.
Nos dias que antecederam o evento, deu entrevistas, falou sobre Copa do Mundo e
sobre o Botafogo, seu clube do coração.
Globo Esporte