CAMPANHA
DO ÓDIO, DA VIOLÊNCIA E DA MENTIRA OBTÉM A MAIORIA NAS URNAS: DILMA SE REELEGE
COM QUASE 52% DOS VOTOS. À SUA FRENTE, UMA ECONOMIA ESTAGNADA E O FANTASMA DO
IMPEACHMENT. PODE CONTAR COM A GENTE (RE)GOVERNANTA: PARA VIGIÁ-LA
Fonte: http://veja.abril.com.br
Crédito: divulgação: Reinaldo Azevedo
Análises políticas em um dos blogs mais acessados do Brasil
Dilma Rousseff, do PT,
que vai fazer 67 anos no dia 14 de dezembro próximo, reelegeu-se presidente da
República. Com a apuração concluída, ela conquistou 51,64% dos votos, contra
48,36% de seu oponente, Aécio Neves, do PSDB. Em números absolutos: 54.501.118
contra 51.041.155, uma diferença de 3.459.963. Dilma conquista o segundo mandato
de forma legítima, segundo as regras do jogo, mas é importante destacar um
aspecto importante. O eleitorado brasileiro é composto, neste 2014, de
142.821.348 pessoas. Logo, ela foi eleita por apenas 38% dos eleitores. Votaram
em branco 1.921.819 pessoas (1,71%), e preferiram anular outros 5.219.787
(4,63%). Ocorre que um contingente gigantesco de 30.137.479 (21,1% do total)
preferiram não comparecer às urnas. Vale dizer: 37.279.085 pessoas — quase a
população da Argentina — preferiu não votar em ninguém. Estamos falando de mais
de um quarto do eleitorado: 27,44%. E assim é com o absurdo instituto do
voto obrigatório. Um presidente é ungido, note-se, com o voto da minoria do
eleitorado. Parece-me que um dos deveres de Dilma é tentar atrair a adesão daqueles
que preferiram outro caminho. E é nesse ponto que as coisas podem se complicar
para ela.
Vamos ser claros? O PT
não se caracteriza exatamente por fazer campanhas limpas. Gosta de dossiês e de
montar bunkers para destruir reputações; adere com impressionante presteza às
práticas mais odientas da política; transforma adversários em inimigos; não
distingue a divergência legítima da sabotagem e o oponente de um alvo a ser
destruído; julga-se dotado de um exclusivismo moral que lhe confere o suposto
direito de enlamear a vida das pessoas. Não foi diferente desta vez. Ou foi: a
violência retórica e as agressões assumiram proporções inéditas. Nunca se viram
tanta baixaria, tanta sordidez e tanta mentira numa campanha.
Vejam de novo o placar:
Dilma venceu Aécio por uma pequena diferença. Quantos desses votos são a
expressão do terror, do medo, do clientelismo mais nefasto? Não! Não se trata,
é evidente, de tachar os eleitores de Dilma de “desinformados” — até porque,
felizmente, a democracia ainda não inventou um mecanismo que distinga os “bons”
dos “maus” votos. Mas é preciso ser um pilantra para ignorar que pessoas
economicamente vulneráveis, que estão à mercê do Bolsa Família, acabam
decidindo não exatamente com menos informação, mas com menos liberdade.
Multiplicaram-se aos
milhares as denúncias de chantagens aplicadas contra as pessoas que recebem
benefícios sociais do Estado brasileiro. Cadastrados do Bolsa Família e do
Minha Casa Minha Vida passaram a receber torpedos e a ser bombardeados com
panfletos afirmando que Aécio extinguiria os programas, como se estes
pertencessem ao PT, não ao Brasil. De própria voz, Dilma chamou os tucanos de
inimigos do salário mínimo — que teve ganho real acima de 85% no governo FHC,
superior, proporcionalmente, aos reajustes concedidos pela própria presidente
reeleita. E daí? As mentiras sobre o passado foram constrangedoras: FHC teria
entregado o país com uma inflação maior do que a que recebeu; tucanos teriam
proibido a construção de escolas técnicas; o governo peessedebista teria sido
socialmente perverso… E vai por aí. Sobre o futuro do Brasil, não disse uma
miserável palavra a não ser um daqueles miraculosos programas — agora é a vez
do “Mais Especialidades”…
Quantos dos
3.459.963 votos que Dilma obteve a mais do que Aécio se consolidaram
justamente no terror? Ora, esbarrei em São Paulo com peças verdadeiramente
sórdidas de agressão à honra pessoal do tucano. Estatais foram usadas de
maneira vergonhosa na eleição, como se viu no caso dos Correios. Em unidades de
bancos público, como CEF e BB, houve farta distribuição de panfletos contra o
candidato do PSDB.
É claro que o medo,
ainda que por margem estreita, venceu a esperança. Dilma assumirá o novo
mandato, no dia 1º de janeiro, com boa parte dos brasileiros sentindo um certo
fastio de seu governo. Pior: o país parou de crescer, os juros estão nas
nuvens, e a inflação, raspando o teto da meta. Dilma também não tem folga
fiscal para prebendas, e o cenário internacional não é dos mais hospitaleiros.
Não será fácil atrair aqueles que a rejeitaram porque vão lhe faltar os
instrumentos de convencimento.
Petrolão
Mais: Dilma já assumirá o novo mandato nas cordas. Além de todas as dificuldades com as quais terá de lidar, há o estupefaciente escândalo do Petrolão. A ser verdade o que disse sobre ela o doleiro Alberto Youssef, não vai terminar o mandato; será impichada — e por boas razões.
Mais: Dilma já assumirá o novo mandato nas cordas. Além de todas as dificuldades com as quais terá de lidar, há o estupefaciente escândalo do Petrolão. A ser verdade o que disse sobre ela o doleiro Alberto Youssef, não vai terminar o mandato; será impichada — e por boas razões.
O escândalo não vai se
desgrudar dela com tanta facilidade. Youssef pode estar mentindo? Até pode. Mas
ele deve conhecer as consequências de fazê-lo num processo de delação premiada.
Ele pode não servir para professor de Educação Moral e Cívica, mas burro não é.
E que se note: em meio a crises distintas e combinadas, a governanta promete
engatar uma reforma política, com apelo a plebiscito. Vêm tempos turbulentos
por aí, podem esperar.
Dilma venceu por um
triz porque o terrorismo funcionou. Sua campanha foi bem além do limite do
razoável. Seu governo já nasce velho, com parcela considerável do eleitorado a
lhe devotar franca hostilidade. E, por óbvio, seus “camaradas” à esquerda não
vão lhe dar folga. A petista assumirá o novo mandato no dia 1º de janeiro
tendo à frente o fantasma do impeachment e a realidade de uma economia
estagnada.
O Brasil vai acabar?
Não! Países não acabam. Eles podem entrar em declínio permanente. Mas Dilma
pode ficar tranquila: nós nos encarregaremos de lembrar que ela foi eleita para
governar um país segundo regras que estão firmadas pelo Estado de Direito. Ela
pode contar com a nossa vigilância. Agora, mais do que nunca.
Texto publicado originalmente às 20h22 deste domingo
Por Reinaldo Azevedo.