Carlos Newton
A jornalista Mônica Bergamo, que costuma ter bons informantes nos bastidores do PT e do governo federal, revela que “a principal razão para o abatimento de Lula não é o impeachment de Dilma Rousseff, segundo um dos melhores amigos do ex-presidente e um outro interlocutor direto. O que preocupa o petista de verdade é o fato de parte da família dele estar sendo também investigada”.
Ainda segundo a jornalista da Folha de S. Paulo, “o impeachment só agravou o desânimo do ex-presidente, que se veria agora ainda mais exposto a eventuais medidas espetaculares de operações policiais”.
Realmente, Lula da Silva (como é conhecido no exterior) tem fortes motivos para se preocupar. Sem foro privilegiado, agora está nas mãos de um juiz chamado Sérgio Moro, que já autorizou a condução coercitiva do ex-presidente, gerando uma cena espetacular, que virou notícia negativa na mídia nacional e internacional.
SÃO MUITOS PROBLEMAS…
Também está com juiz Moro o primeiro pedido de prisão de Lula, encaminhado pelo Ministério Público de São Paulo, com base em ocultação de patrimônio (lavagem de dinheiro) no estranho caso do tríplex à beira-mar no Guarujá.
O problema se agiganta. Nos depoimentos das delações premiadas da Operação Lava Jato, Lula é citado mais de 200 vezes. O pior testemunho contra ele foi feito pelo então senador Delcídio Amaral, que ostentava a condição de líder do governo Dilma Rousseff e fez gravíssimas acusações diretas ao ex-presidente.
As operações Lava Jato e Zelostes investigam também dois filhos de Lula (Fábio, o Lulinha, e Luís Cláudio, o caçula). Além disso, a própria Marisa Letícia é alvo de três inquéritos – na Procuradoria de São Paulo (tríplex), no Ministério Público Federal de Brasília (apropriação de bens pertencentes à União) e na força-tarefa da Lava Jato (triplex, sítio de Atibaia e apropriação de bens pertencentes à União).
BUMLAI, TEIXEIRA E ROSE
Até amigos íntimos de Lula estão sendo investigados, como o empresário José Carlos Bumlai e o advogado Roberto Teixeira, sem falar no processo contra a segunda-dama Rosemary Noronha, que o então presidente da República sustentava com recursos públicos e com ele viajava ao exterior sempre que Lula conseguia se descartar de dona Marisa.
Ninguém sabe se Lula ainda se encontra com Rosemary, com quem se relaciona desde os anos 90, quando o amigo João Vaccari o apresentou à jovem secretária do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
O que se sabe, sem medo de errar, é que Lula continua sustentando a família dela e também a defesa na Justiça. Na época do escândalo, em 2013, Lula fazia questão de se reunir com os advogados de Rose, sempre em companhia de José Dirceu, com quem não fala desde o início de 2015, quando se recusou a atender um telefonema dele, que se preocupava com o avanço da Lava Jato e queria traçar uma linha comum de defesa. Desde então, Lula e Dirceu nunca mais de falaram.
A ESTRATÉGIA DE MORO
Na visão de Lula, o pior de tudo é a estratégia cautelosa e torturante do juiz Sérgio Moro, cujas decisões e sentenças têm sido mantidas nos tribunais superiores, inclusive no Supremo.
Quando o magistrado paranaense toma uma decisão mais polêmica e arriscada, como a cinematográfica condução coercitiva de Lula ou a divulgação dos áudios dos diálogos por telefone com a presidente Dilma Rousseff, isso significa que a força-tarefa tem outras cartas na manga. Assim, se algum tribunal quiser derrubar a decisão, o juiz Moro então revela as provas adicionais de que dispõe e facilmente justifica a medida adotada.
O PIOR ESTÁ PARA VIR
Lula está consciente de tudo isso. Realmente há razões para estar deprimido. Sua ex-amiga Dilma Rousseff tem motivos ainda maiores, mas a depressão dela é controlada pelos medicamentos de tarja preta que a mantêm minimamente equilibrada.
Dilma está em Porto Alegre, tentando descansar ao lado da família e de amigos, mas terá de voltar a Brasília nesta quarta-feira, para retomar a campanha criada por Lula e pela cúpula do PT para denunciar o golpe e a perseguição das elites.
Sem qualquer dúvida, nem Lula nem Dilma encontram motivos para perspectivas otimistas. Têm consciência de que o ministro-relator da Lava Jato no Supremo, Teori Zavascki, sabe exatamente que está dizendo quando afirma que o pior ainda está para vir.