02/10/2011

ENTENDER

Cristina Fam


Crédito: Divulgação

Os breques bruscos, violentos; não sabemos quando; natural seria envelhecer; a necessidade da juventude tem um empurrãozinho dos deuses; a velocidade é viver cada segundo; a liberdade aprisiona; a morte, companheira precoce dos jovens; entender, que a vida é breve.

Um dia retornaremos; a consciência burla essa verdade quando estamos com saúde e somos jovens. A maturidade trás a sabedoria com o passar dos anos; a certeza da partida morre a cada dia numa despedida silenciosa; à viagem pode ser bela e suave; entretanto, se, iremos depois, ou antes, dos filhos...

Esperança alimenta para que nossos filhos cresçam; os netos brinquem em nossas casas; que as velas acesas na infância comemorando a passagem de mais um ano de vida demonstra a paz que brindamos com alegria. No São João lhes damos bombinhas para festejar, sorrimos com a chuva de fogos, a fogueira queima até a ultima brasa.

Chega à adolescência nos preocupando com as amizades; com as drogas; com o alcoolismo; com o futuro; o caráter; com a índole. Oramos a Deus pedindo proteção para que os nossos filhos nunca machuquem os outros filhos, esquecendo que dores causam.

Vibramos de alegria quando saem vitoriosos do vestibular, festejamos; sentimos orgulho dos filhos, sobrinhos, dos netos, dos amigos.

As crianças cresceram, os pais já não lhes banham, nem as vestes, alimentam-se sozinhas; trafegam livres como adultos já não pedem conselhos nem escutam, cometem seus próprios erros, muitas vezes passamos as mãos na cabeça.

A madrugada acorda pais tomando-os de assalto com a brutalidade da noticia. A morte passou levando “os meninos” filhos dos amigos; sobrinhos queridos; os netos idolatrados; pais angustiados. -Senhor aonde foi que erramos?

A morte toma; quem ouviu o ferro bater na madrugada; sem conhecer o futuro das coisas adiamos; negamos que pode ser hoje o ultimo dia; “-se soubéssemos a hora que o ladrão viria trancaríamos a porta!”

Enxergamos quase nada; o concreto; as portas do outro lado da rua; não nos é permitido conhecer a dor que enfrentaremos, a angustia, o medo do vazio da solidão do parto precoce.

Nono mês da gestação do ano; na eternidade tudo é medido contado; não se negocia o destino, cada ação tem uma reação; o traço executado.

Abençoamos e pedimos boa sorte, rezamos; agradecemos pouco ou quase nada do muito que Deus nos dá; julgamos muito; perdoamos pouco; enxergamos no outro, mas, a trava no olho impede espiar, o desconhecido.

O destino assim quis; pequenino mundo limita-se até a porta da frente esbarra no trinco; cada olho tem a percepção alheia, bisbilhotar serve de consolo para as mazelas; tomar a dor afugenta o medo da morte; o choro lava o flagelo, a fraqueza; a curiosidade instiga a vida, aguçada insensatez jogada sorte no precipício.

Entender e sentir a dor dos amigos que também é nossa; poderia ser nossos filhos, irmãos, sobrinhos ou até mesmo os pais; tememos muito, assustados ficamos por um bom tempo. Depois, seguimos com lembrança leve, aguardamos o que nos foi destinado. Esperamos em Deus que nos mantenha com fé para orientar os que conosco permanece.