MENINAS MAIS SÁBIAS QUE HOMEM
Cristina Fam
Tolstoi
Era uma Páscoa ainda no inverno. Havia restos de neve nos jardins e a água corria pelas ruas da cidade.
Duas meninas se encontraram por acaso num beco entre dois quintais, onde a água suja que descia das fazendas formara uma poça grande. Uma das meninas era muito pequena e a outra, um pouco maior. Ambas estavam de vestido novo e lenço vermelho na cabeça. O vestido da pequena era azul e o da outra era amarelo. Acabavam de vir da igreja e, primeiro, exibiram uma à outra sua elegância e depois foram brincar. Logo ficaram tentadas a pilar na água e a menor ia entrar na poça com sapato e tudo quando a maior impediu:
- Não entre assim, Malasha! Sua mãe vai zangar com você. Vamos tirar as meias e os sapatos.
Tiraram e, levantando as saias, foram andando uma ao encontro da outra através da poça. A água chegou aos tornozelos de Malasha e ela gritou:
- È fundo, Akoulya. Estou com medo.
- Pode vir – disse a outra. – Não tenha medo, não vai fiar mais fundo. Chegando mais perto, Akoulya disse:
- Cuidado, Malasha, não deixe espirrar água. Ande com cuidado!
Mal tinha avisado e Malasha meteu o pé com força, espirrando água no vestido de Akoulya, molhando também seus olhos e o nariz. Quando viu os respingos de lama no vestido, Akoulya ficou brava e correu para bater na outra. Malasha teve medo e, vendo que se metera em encrenca, saiu correndo da poça, pronta a fugir para casa. Nesse instante, a mãe de Akoulya ia passando e, vendo a filha com a saia molhada e as mangas sujas, ralhou:
- Que sujeira, menina impossível! O que você fez?!
- Malasha molhou de propósito – disse ela.
A mãe de Akoulya pegou Malasha e deu-lhe uma tapa na nuca. Malasha chorou tão alto que a rua inteira ouviu e a mãe dela apareceu.
- Por que está batendo na minha filha? – ela veio dizendo, furiosa com a vizinha. Uma palavra puxa outra e a discussão virou uma altercação feroz. Os homens apareceram, juntou-se uma multidão na rua, todos gritavam e ninguém ouvia. Todos discutiam até que alguém deu o primeiro empurrão e o caso estava próximo à pancadaria quando a bisavó de Akoulya chegou, tentando acalmá-los.
- Que é isso amigos? É assim que se faz? Logo hoje! É dia de alegria, não se faz uma loucura dessas!
Ninguém ouvia a velha senhora e quase a jogaram ao chão. Ela não teria sido capaz de impedir o conflito se não fosse por Akoulya e Malasha. Enquanto as mães trocavam impropérios, Akoulya tinha limpado a lama do vestido e voltado à poça. Pegou uma pedra e começou a cavar a terra em frente à poça, abrindo um canal para a água correr até a rua. Malasha ajudava, com um pedacinho de pau. No momento em que os homens iam se atracar, a água jorrou pelo canal diretamente onde estava a bisavó, ainda tentando aquietar os homens. As meninas seguiram correndo ao lado do fio dۥágua.
- Pegue Malasha! Pegue! – gritou Akoulya, e Malasha perdia o fôlego de tanto rir.
Encantadas com o pedacinho de pau flutuando na pequena correnteza, as meninas entraram correndo no grupo de homens; e ao vê-las a bisavó gritou:
- Não têm vergonha? Brigando por causa dessas menininhas e elas nem se lembra mais por quê! Estão brincando, felizes. Que linda é a inocência! São mais sábias que vocês!
Os homens se olharam, envergonhados, e voltaram para casa, rindo de si mesmos.
“somente quando te tornares novamente criança, entrarás no reino dos céus.”
Fonte: O LIVRO DAS VIRTUDES
WILLIAM J. BENNETT
Duas meninas se encontraram por acaso num beco entre dois quintais, onde a água suja que descia das fazendas formara uma poça grande. Uma das meninas era muito pequena e a outra, um pouco maior. Ambas estavam de vestido novo e lenço vermelho na cabeça. O vestido da pequena era azul e o da outra era amarelo. Acabavam de vir da igreja e, primeiro, exibiram uma à outra sua elegância e depois foram brincar. Logo ficaram tentadas a pilar na água e a menor ia entrar na poça com sapato e tudo quando a maior impediu:
- Não entre assim, Malasha! Sua mãe vai zangar com você. Vamos tirar as meias e os sapatos.
Tiraram e, levantando as saias, foram andando uma ao encontro da outra através da poça. A água chegou aos tornozelos de Malasha e ela gritou:
- È fundo, Akoulya. Estou com medo.
- Pode vir – disse a outra. – Não tenha medo, não vai fiar mais fundo. Chegando mais perto, Akoulya disse:
- Cuidado, Malasha, não deixe espirrar água. Ande com cuidado!
Mal tinha avisado e Malasha meteu o pé com força, espirrando água no vestido de Akoulya, molhando também seus olhos e o nariz. Quando viu os respingos de lama no vestido, Akoulya ficou brava e correu para bater na outra. Malasha teve medo e, vendo que se metera em encrenca, saiu correndo da poça, pronta a fugir para casa. Nesse instante, a mãe de Akoulya ia passando e, vendo a filha com a saia molhada e as mangas sujas, ralhou:
- Que sujeira, menina impossível! O que você fez?!
- Malasha molhou de propósito – disse ela.
A mãe de Akoulya pegou Malasha e deu-lhe uma tapa na nuca. Malasha chorou tão alto que a rua inteira ouviu e a mãe dela apareceu.
- Por que está batendo na minha filha? – ela veio dizendo, furiosa com a vizinha. Uma palavra puxa outra e a discussão virou uma altercação feroz. Os homens apareceram, juntou-se uma multidão na rua, todos gritavam e ninguém ouvia. Todos discutiam até que alguém deu o primeiro empurrão e o caso estava próximo à pancadaria quando a bisavó de Akoulya chegou, tentando acalmá-los.
- Que é isso amigos? É assim que se faz? Logo hoje! É dia de alegria, não se faz uma loucura dessas!
Ninguém ouvia a velha senhora e quase a jogaram ao chão. Ela não teria sido capaz de impedir o conflito se não fosse por Akoulya e Malasha. Enquanto as mães trocavam impropérios, Akoulya tinha limpado a lama do vestido e voltado à poça. Pegou uma pedra e começou a cavar a terra em frente à poça, abrindo um canal para a água correr até a rua. Malasha ajudava, com um pedacinho de pau. No momento em que os homens iam se atracar, a água jorrou pelo canal diretamente onde estava a bisavó, ainda tentando aquietar os homens. As meninas seguiram correndo ao lado do fio dۥágua.
- Pegue Malasha! Pegue! – gritou Akoulya, e Malasha perdia o fôlego de tanto rir.
Encantadas com o pedacinho de pau flutuando na pequena correnteza, as meninas entraram correndo no grupo de homens; e ao vê-las a bisavó gritou:
- Não têm vergonha? Brigando por causa dessas menininhas e elas nem se lembra mais por quê! Estão brincando, felizes. Que linda é a inocência! São mais sábias que vocês!
Os homens se olharam, envergonhados, e voltaram para casa, rindo de si mesmos.
“somente quando te tornares novamente criança, entrarás no reino dos céus.”
Fonte: O LIVRO DAS VIRTUDES
WILLIAM J. BENNETT