03/01/2009

Em 2008, Jaques Wagner perdeu mais do que ganhou
Jovino Fernandes
Biaggio Talento A TARDE
A decisão de não apoiar desde o início apenas um candidato de sua base política na eleição da Prefeitura de Salvador marcou o ano político do governador Jaques Wagner (PT). Essa indecisão de Wagner (que resultou na repartição do apoio a três nomes: Walter Pinheiro do PT, Antônio Imbassahy do PSDB e João Henrique do PMDB) teria contribuído para que o candidato fosse derrotado por João, analisam alguns observadores da cena política baiana.

Por outro lado, o governador faturou alto, politicamente, ao receber na Bahia, chefes de Estado de 33 países nas quatro cúpulas latino-americanas realizadas em dezembro em Costa do Sauípe. Um ano político de “canais obstruídos”, foi como definiu o ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima ao comentar o 2008 de Wagner. “Eu torço para que haja uma desobstrução maior em 2009 com menos equívocos na área política”, declarou Geddel, o homem que conseguiu ressuscitar a gestão do prefeito João Henrique e transformá-lo num candidato competitivo na corrida eleitoral, após a saída de vários partidos do arco de alianças da base política do prefeito.

Geddel esperava que o PT não abandonasse o barco de João e apoiasse sua reeleição, mas ocorreu tudo ao contrário. Esse ato dos petistas determinaria o tom da campanha, pois os peemedebistas elegeram o PT como o “Judas” da eleição acirrando os ânimos. Indagado se achava Wagner o grande perdedor da disputa em Salvador, Geddel esgueirou-se: “Esse juízo faz a sociedade. Eu me considero vencedor”. Sobre o fato do governador ter apoiado três candidatos no primeiro turno, o ministro considera que “teria sido melhor se tivesse trabalhado para ter um candidato só da base” e quer virar essa página: “Isso é passado, quem vive só de passado é museu. Tem que viver de passado com perspectiva de futuro”.

PERDEDOR – Sem as amarras de integrar a aliança de Wagner, o presidente regional do DEM, ex-governador Paulo Souto tem uma opinião mais explícita em relação à eleição municipal. “Claro que ele [Wagner] é o grande perdedor. Depois de tentar demonstrar que tinha três candidatos no primeiro turno ficou claro que estava com o nome do PT que sofreu uma grande derrota no segundo turno”, disse.Souto acha “significativo” o fato do partido do governador não ter elegido o maior número de prefeitos no Estado. “Não conheço na história da Bahia, que um dos últimos seis ou oito governadores tenha saído da eleição com um número tão reduzido de prefeituras”, provocou. O PT que elegeu 19 prefeitos em 2004, chegou aos 66 em 2008.

Souto desdenha das avaliações de cardeais petistas segundo as quais mais de 300 prefeituras fazem parte da base do governador. “É um apoio volátil, circunstancial, a verdade é que o PT, em si, não tem a hegemonia no Estado”. O ex-governador viu fracasso também nas articulações da base governista na Assembleia Legislativa que não conseguiu aprovar as matérias de interesse do Estado ao longo do ano e precisou recorrer à convocação extraordinária, “estimulada pelo governo”. Qualificando as alianças de Wagner como “precárias”, Souto sustentou que “depois de dois anos de uma administração inerte”, o governo estadual precisa no tempo que resta “mostrar alguma coisa do ponto de vista administrativo” a partir de 2009.

CAUTELA – O líder do governo na Assembleia Legislativa, deputado Waldenor Pereira (PT), disse que a postura de Wagner na eleição de prefeito de Salvador foi motivada por seu estilo de negociador. “Desde o primeiro dia do seu governo ele vem trabalhando insistentemente para manter a coalização dos partidos que ajudou na sua eleição”, declarou.

Ao manifestar apoio a três nomes de partidos de sua base em Salvador, Wagner estaria trabalhando para manter a aliança. “Agora é claro que essa aliança é heterogênea e às vezes alguns partidos divergem, mas o governador tem habilidade para preservar todos no mesmo arco. Imagine os prejuízos à base que causaria a dispersão do PMDB ou de outras siglas”.

Pereira justificou as críticas de Wagner contra o prefeito João Henrique como uma “reação aos ataques recebidos”. Conforme Pereira, Wagner é “habilidoso na condução política. Em nome disso, resistiu às pressões do PT que defenderam o rompimento com o PMDB depois da campanha eleitoral em Salvador.