06/07/2009

EMANCIPAÇÃO E INDEPENDÊNCIA

Espedito Lima

A nação brasileira, entre as décadas de 60 e 80, talvez tenha passado por um dos mais negros períodos de sua história, quando viveu e conviveu com o regime militar “ditadura”. Foi nele que a liberdade foi castrada, a censura aplicada, vigiada autoritariamente e a tortura permeou abundantemente, inclusive com a prática de execução primária de pessoas, inocentes ou não, sob a alegação de incitação, sublevação, terrorismo e subversão, entre outros.
Foram dias terríveis, cruéis, inaceitáveis e insuportáveis; dias de tensão, medo, receio, humilhação e tudo quanto um povo e uma nação jamais desejaram e viram. Foram vítimas e mais vítimas. Fracos, fortes, brancos, negros, ricos e pobres, autoridades ou não; religiosos, estudantes, executivo, judiciário e legislativo todos, quase que indistintamente se viram na armadilha da ação militar, acobertadas por decretos, leis e atos insanos, destruidores dos direitos e garantias constitucionais dos cidadãos, de todos nós.

O curioso é que justamente nesse período, o Brasil começou a se desenvolver em muitas áreas e foi a época em que a educação, por exemplo, alcançou sua melhor qualidade e a formação de muitos atingiu níveis expressivos. Lembramos muito bem, que duas disciplinas eram ensinadas nas escolas: EMC – educação moral cívica e OSPB - organização social e política brasileira.

Elas contribuíram e muito para o alicerce básico do caráter e da moral de não poucos filhos da terra do pau-brasil, dos papagaios, das araras, dos índios e até de uma religiosidade monopolizada, que também carregou consigo as marcas ditatoriais, assim como as classes política, estudantil e de intelectuais, nas mais diversas variantes sociais e culturais.
Mas, será que esse período e essa página cheia de nódoa que infelizmente a nossa história relata, verdadeiramente foram abolidos definitivamente? Será que ainda não existem resquícios evidentes do “coronelismo militar” e da “majestade ditadura”? Será que nós gozamos nos tempos atuais de todos os nossos direitos e garantias? Será que estamos numa plena democracia e que o exercício da cidadania existe mesmo? Será que estamos e somos emancipados e independentes, como desejávamos e desejamos?

Não é difícil entendermos, por mais ignorantes e incultos que sejamos que estamos vivendo numa fase, não de uma simples mudança de governo nem de uma mera transição, mas de uma fase em que obrigatoriamente temos que reconhecer as transformações emergentes que temos sofrido; a maioria ainda à mercê de tempos melhores, enquanto que uma minoria já atinge uma vida bastante gratificante.

A partir da promulgação da constituição de 1988, é inegável que um regime se foi e outro apareceu mostrando a todos os brasileiros uma esperança totalmente esverdeada, embora manchas marrons ainda persistam e queiram contrariar as pretensões daqueles que continuam lutando por uma carta literalmente democrática, em que a liberdade seja sua principal bandeira, sua cidadania “nossa” seja exercida plenamente, sob a luz de uma assistência real e de uma garantia legal e, sobretudo calcada nos princípios da vida moderna de um país que tende a se transformar numa grande potencia mundial.

Emancipação pode significar – libertação e independência, autonomia. Assim, façamos tudo para nos libertarmos completamente da ditadura do paletó e da gravata, que nos persegue e busquemos a autonomia que tanto precisamos. No primeiro caso, se deve entender que não aceitemos a submissão nem humilhação a nós impostas pelos nossos mandatários; não os ouçamos e não os obedeçamos quando pretenderem nos dominar, para colocar uma coleira ao nosso pescoço como em qualquer animal para adestrá-lo; não sejamos conduzidos e induzidos a praticarmos os mandos e desmandos ilegais; não aceitemos cabresto para, no dia das eleições, sermos obrigados a votar em determinado candidato. No segundo, devemos, a qualquer custo, sermos autônomos: nas nossas ações, decisões e na nossa caminhada para que conquistemos nossos objetivos da melhor forma possível, sem necessitarmos de ingerência dos que desejam que vivamos argolados e acorrentados aos caprichos dos politiqueiros, dos corruptos e dos desonestos do poder, aqueles que se apoderam do que é nosso, nos deixando órfãos de tudo; não abdiquemos da inteligência e capacidade que temos para sabermos discernir os caminhos dignos e honrados que devemos percorrer e não ouçamos aqueles que procuram nos desviar da seriedade, da ética e da boa índole e nos lançar no lamaçal do assalto, do seqüestro dos nossos bens e de nós mesmos.

Lutemos por uma emancipação plena e legal e por uma independência infinita, que nos propiciem a segurança, a saúde, a paz e a educação eficazes às nossa vivência e sobrevivência e viva a nossa libertação e autonomia. Se somos livres, hajamos com liberdade e se somos inteligentes, hajamos com autonomia. Emancipemo-nos de nós mesmos e dos que nos procrastinam a verdade.