07/12/2009

BRASÍLIA DA MEIA
Espedito Lima
Como uma nação mórbida ela se move contra sua gente e como um samba surdo e esquecido não mais a balança; porque o seu pudor está como um ser desvairado, estonteado pelo fel que é lançado nas taças, que mela a inconsciência dos conscientes. E eles vão contando dinheiro, bafejando, esbravecendo, mas oram: a quem? Deus ou o Demo. É o poder, o status, e acima de tudo a covardia suprema que traga a moral e indigna a mansidão dos que querem menos, mas sempre pegam mais.

É o espanto que mais um escândalo causa e uma corrida para frente da TV que não deixa o rádio ser ouvido nem o jornal ser olhado e lido. E eles estão à frente dela, com holofotes e tudo quanto é necessário para filmá-los e ouvi-los. São as sanguessugas, não da água, mas do papel-moeda, que arranjam com tanta facilidade.

O cenário se modifica, mas o número dos sedentos, a cada dia, aumenta, assim como aumenta a força gulosa deles. É impressionante! Porém, nada de anormal, tudo natural. É a conquista sem guerra e que não tem precisão de batalha; a vitória é certa, o dinheiro tem de sobra; acolá e lá, em Brasília, no Brasil. São os homens do poder, são eles que dirigem, que ouvem, mas não dão ouvidos.

Eles não plantam, mas colhem e vendem os frutos a eles mesmos. Não usam cesto e nem peneira, nós é que somos peneirados e colocados dentro do vaso, qualquer um, o primeiro que eles encontrarem. Somos esmagados, sem grana, porque ela não nos pertence, pertence a eles. E seus cofres, são a cueca, a meia, o sapato ou qualquer lugar que sirva para esconder, por um tempo, o monei; o grosso, no varejo e no atacado. Danem-se, todos nós, eleitores ou não, o povão.

A cidade é mística, é uma nave e tem asas. Eles voam muito bem; colam e decolam, sem turbulência, suavemente. É a serenata com uma lua cheia, nada de escuridão, todos têm que enxergar as tetas, agarrá-las e sugá-las com cuidado para não desperdiçar o que sai em boa quantidade.

Ela não é viúva, não precisa ninguém morrer; todos vivem muito bem e com longevidade. Ela é um plano num planalto – região – cerrado; todos estão literalmente “cortados” mesmo, sem navalha, sem peixeira, no bolso. É o vaso do oleiro sem piedade, o clamor que espanta os fieis e o alimento que sustenta os injustos; aqueles que maquinam o alheio e pousam com a nudez da avareza, cobrindo-se da mancha que é nódoa e suja a limpeza que eles fazem nos cofres públicos.

Que cidade! Vai ao seu horizonte e na sua verticalidade, vestida pela arquitetura permeada nas mãos do grande escultor que, por certo, jamais a imaginou corroída e corrompida, pela ganância dos seus governantes, nem nunca pensou que sobre suas asas, corresse o lamaçal da desordem política e da faminta vaidade de seus mandatários.

É o caos! É também a luxúria dos que habitam uma terra que mana o fel e que se desencanta com suas ambições; são os velejadores do oceano que os afoga nas ondas que se erguem no poder da usurpação daquilo que deveria ir para o bem de um povo enganado, pisoteado, esmagado e sangrado. É a assolação cruel dos dias negros lançados por eles no clarão da inocência de muitos, com a esperteza de poucos.

Mas eles se vão, o lugar não é eterno e a permanência é passageira, porque outros virão. E os que virão, espera-se, não mais cubram a grana em panos que outrora serviam para cobertura de partes íntimas do corpo humano, deles mesmos ou enrolassem os pés para proteção do couro que fere. Ferido e traído, mais uma vez, está o eleitor, Brasilense e Brasileiro.