11/12/2009

FANTASMA e MAGRICELO
Espedito Lima

De repente, uma senhora chega a uma determinada repartição pública e após algumas indagações de seu interesse; claro, assusta-se, assustadoramente, quando lhe informam, depois de uma zombaria e debochinho, que ela é pessoa morta, falecida (cessada). Se ela está viva, presentemente, em carne, osso e espírito, como provar que está viva mesma? Estão vendo algum fantasma ou fantasma são as duas figuras mal-assombradas que lhe prestaram tal informação?

A senhora, ainda atordoada com a inusitada investida, procura a gerencia da casa e encontra um cidadão mais educado e atencioso do que as duas fêmeas despreparadas e mal educadas que lhe receberam causando um momentâneo suplício, que originou em sua súbita morte. É incrível! As pessoas são assim mesmo, matam a qualquer momento seu semelhante, não interessa como e nem aonde, principalmente no INSS. Coisa de louco e excesso de loucura funcional; aposentadoria e benefício e quem quiser que morra; aceite a morte, mesmo estando vivo.

Enquanto isso, o outro, seu companheiro, que estava aqui e não com ela, é urgentemente acionado por sua cunhada, pois esta demonstrando aspecto desesperador lhe pede que vá à delegacia verificar se seu magricelo está por lá, o que aconteceu e o que ele está fazendo. A sua atitude e histérico nervosismo deveu-se à notícia de que a PF encontrava-se nela – delegacia, ouvindo pessoas envolvidas em golpes contra a instituição “aposentatória” que foram presas temporariamente.

Que espanto! A vida nos proporciona muitas versões e inversões; mostra-nos o fantasma da invenção e nos sepulta vivos, quer dizer: simplesmente acham e saem informando, inclusive à morta, que ela realmente morreu. E a aposentadoria, quem herda? O benefício fica sob o controle de quem?

Em meio a tudo isso, a viúva, que ainda sustenta uma esperança “adolescenticía”, perturba-se e anseia por seu magricelo que anda labirintado como ela; subindo e descendo, como meninos que brincam pelas ruas e aves que voam sem destino. Engraçado! Parece até peça teatral infantil, mas de uma infantilidade aliada a um amadurecimento sutil, inerente ao estado de viuvez, muito natural.

Conclusão: a suposta falecida, sem enterro, graças a Deus, sob o aspecto de uma mera visagem e aparentando um corpo literalmente físico, passeia ao lado do grande, que não é o magricelo, mas sim, seu amor; se diverte com tal conto, fato real mesmo, acredite se quiser, enquanto que a estonteante viúva partiu para outras plagas, a fim de refletir sobre seu atraente magricelo, que continua no seu canto saboreando um passado não muito distante, quando investia, como ainda investe, nas suas pegadas amorosas, se encontrado com ela - viúva, vez por outra, sorrateiramente.

São os casais que ficam e que vão; se amam e se querem; um está por aqui e outro ainda tende (ela com ele) a se unirem, parcial ou definitivamente. A esperança continua verde e o passado se une ao presente para poderem talvez, encontrarem-se no futuro bem próximo.

A morta está viva; então, viva a morte que vive!