04/09/2011

RETALHOS

Cristina Fam


Crédito: Divulgação

Joaninha ganhou chamego do coronel; não escolheu amor que na porta bateu, que abriu, deixando entrar; acompanhava-o também ate a porta numa boa noite dengoso que na madrugada partia para no fim da tarde retornar; fiel ao amor.


Assim viveu a mulher que aceitou ser amada entre vestidos de chita sem luxo; sem nada pedir apenas recebia presente que ao seu marido ele dava; quando o coronel perguntava qual a cor da roupa; respondia marrom; assim Joaninha acolheu o amor que ninguém jamais contou em versos nem prosa o pecado da mulher casada que nos braços do coronel da praça se atirava.

Ah! “Quantas Joaninhas” - deixaram pra trás o amor da louca juventude, o idílio, coisas que perdeu pelo caminho: - talvez nos vejamos depois, e, se depois não chegar, ela precisa esquecer que sofreu a saudade, a distancia, a solidão que o magricelo deixou, ainda faz de conta que o tempo passou, quem sabe tudo o que houve entre eles não terminou; caminhemos esperando talvez um dia te ver; precisando do abraço; amar e ser amada, ainda a tempo de viver a louca paixão do oitão da igreja; o tempo castiga com lembranças, sonha acordada que um dia ele volte; embora ela todas as noites volta pros braços no vazio da solidão.

Suspira, geme o carro de boi que passa na rua seguindo destino, enquanto briga com os sentimentos tenta afogá-los nas lagrimas que caem na noite insone.

A menina seguia pro Marancó olhava a paisagem, sonhava com o amor as caricias; ele ocupado pensava em revolução; buscava solução para o país que de um jeito ou de outro seguiu seu curso; o amor sacrificado.

Retalhos, pedaços, fitas e fatias do idílio que não viveu, amor de louca juventude sem promessas; ao acaso; corações adormecidos; buscando os sonhos do passado; apressados; sem noites de amasses; sem o gozo; não provou, nem si quer conheceu-o; suspira profundamente, treme, busca no remendo da colcha de retalho a linha ainda enrolada, lembrança do beijo apimentada; solitária vaga pela noite; é veloz, se troca, parada na encruzilhada da vida o corpo agitado, pensamentos agonizados, sua mãe a assombra, desperta, a noite já vai alta é quase madrugada.

Veste-se e vira, escuta estalo, volta lentamente o corpo espelho trincado, solta uma praga, seu rosto em retalho grita revoltada. Sempre tem como desculpa o tempo que é seu consolo, a falta de coragem; morre as ilusões do passado, sem promessas vive da crueldade, com a alma em frangalhos, tenta juntar aos pedaços a juventude na esperança de um dia novamente viver o louco amor.

Ele continua sem o tempo; ela ainda é a mesma menina velha nos sentimentos; desconhecendo os segredos que o amor tece em retalhos, traiu seu coração, não permitiu amar, não seguiu Joaninha nas coisas do amor.
A musica cantada na manha da partida a procura de nada, vai indo sem saber aonde chegar, talvez na volta te encontre no mesmo lugar.