Francisco
canoniza neste domingo dois papas que mudaram a cara da Igreja
Fonte: diariodepernambuco
Santinhos de João XXIII e João Paulo II à venda em Roma
Foto: AFP Tiziana Fabi
O Papa Francisco está prestes a
tornar santos dois de seus antecessores, o italiano João XXIII e o polonês João
Paulo II, que simbolizam a abertura para o mundo e a confiança de ser católico:
duas faces complementares, nas quais ele se reconhece.
Diante de centenas de milhares de
devotos de toda a Itália, Polônia e demais países - e centenas de milhões em
frente à televisão ou nos cinemas de 20 países com óculos 3D - o primeiro Papa
latino-americano da história canonizará no domingo na Praça de São Pedro os
dois papas: Giuseppe Angelo Roncalli, o homem do Concílio Vaticano II
(1962-1965), que abriu a Igreja Católica para a sociedade e para as outras
religiões, e Karol Wojtyla, o carismático que derrotou o comunismo.
A presença do Papa emérito Bento
XVI é provável, mas ainda não foi confirmada. Joseph Ratzinger foi muito ativo
no Concílio e um colaborador próximo do papa polonês.
Cento e cinquenta cardeais, mil
bispos e 6.000 padres de todo o mundo concelebrarão a missa de domingo de manhã
ao ar livre em frente à basílica. No total, 93 delegações oficiais, incluindo
24 chefes de Estado e membros da realeza, vão assistir a cerimônia de duas
horas.
Muçulmanos, anglicanos,
ortodoxos, alguns protestantes - hostis ao culto católico dos santos - vão
estar lado a lado junto a uma forte representação judaica, que manifestará a
sua gratidão aos dois papas que lutaram contra o preconceito anti-judaico na
Igreja.
Durante a semana, a Cidade Eterna
começou a receber turistas, que chegaram a pé, de ônibus ou de carro, enquanto
os quiosques estavam cobertos de milhares de cartões postais dos papas,
especialmente João Paulo II e Francisco.
Na manhã desta sexta-feira, dois
retratos dos dois santos vestidos com a capa vermelha pontifícia eram
observados na fachada da basílica, em frente à qual uma multidão colorida e
diversa se reunirá sob um sol de primavera.
Estima-se a presença de cerca de
800.000 a um milhão de peregrinos entre sábado e domingo, e de um custo para a
cidade de pelo menos sete milhões de euros para todo o período da Páscoa.
"Este é um evento como Roma
nunca experimentou em sua história, a canonização de dois papas na presença de
dois papas vivos", afirmou na quarta-feira o bispo Libério Andreatta,
chefe da agência do Vaticano de Organização das Peregrinações (ORP).
Noites brancas de orações
As celebrações religiosas começam
no sábado à noite, com "noites brancas" de orações em 15 igrejas em
línguas diferentes.
Durante a noite, dezenas de
milhares de peregrinos devem dormir em seus carros, nas ruas ou nas pontes do
Tibre, na esperança de garantir um lugar na Praça de São Pedro.
Para a maioria das pessoas que não poderão assistir ao vivo, telões exibirão a cerimônia em locais históricos da capital.
O Papa Francisco chegará à praça
com uma procissão ao ritmo da ladainha dos santos. E, diante dos gigantes
retratos dos dois papas exibidos na fachada da Basílica do Vaticano, Francisco
pronunciará as palavras que ficarão gravadas para sempre no "registro
celestial", daqueles a que todos os católicos são convidados a orar
pedindo ajuda para sua vida terrena.
À medida que a canonização de João XXIII, apelidado de "o papa bom", não é contestada por ninguém, a de João Paulo II tem recebido críticas, com acusações de que ele fechou os olhos para os crimes de pedofilia, concentrou o poder e foi muito severo com teólogos dissidentes, incluindo os da Teologia da Libertação.
À medida que a canonização de João XXIII, apelidado de "o papa bom", não é contestada por ninguém, a de João Paulo II tem recebido críticas, com acusações de que ele fechou os olhos para os crimes de pedofilia, concentrou o poder e foi muito severo com teólogos dissidentes, incluindo os da Teologia da Libertação.
Francisco então concelebrará uma
missa solene com cinco prelados, entre eles o bispo de Bergamo (cidade natal de
João XXIII), Francesco Beschi, e o ex-secretário particular do papa João Paulo
II e arcebispo de Cracóvia, Stanislaw Dziwisz.
A comunhão será distribuída a 600
padres e 200 diáconos.
Francisco enviou uma mensagem aos
poloneses e aos fiéis da diocese de Bergamo. Ele saudou a "coragem apostólica"
de João Paulo II que "ajudou no mundo inteiro os cristãos a não ter
medo" de afirmar sua fé.
Para João XXIII, Francisco falou
de sua "herança" italiana, "terra de uma fé profunda", de
"famílias pobres unidas no amor de Deus" e "comunidades capazes
de dividir na simplicidade".
Na Praça de São Pedro, alguns
expressam reservas: o alemão Dietrich saúda a "proximidade das
pessoas", mas considera a canonização "ultrapassada" e, pelo
menos, "prematura".
A americana Jackie, que veio de Boston, expressa "dúvidas sobre os milagres" e aprecia, especialmente, o Papa Francisco, que se mostra "mais tolerante a todos os tipos de pessoas, todos os tipos de casamento, os divorciados"
A americana Jackie, que veio de Boston, expressa "dúvidas sobre os milagres" e aprecia, especialmente, o Papa Francisco, que se mostra "mais tolerante a todos os tipos de pessoas, todos os tipos de casamento, os divorciados"
Já o colombiano Ottavio veio ao
Vaticano por João Paulo II: "Este homem não tinha medo de nada",
considerando que o Concílio Vaticano II trouxe "uma espécie de profanação
da fé, ao abandonar o latim".
Francisco fez com que João XXIII
fosse canonizado com João Paulo II para evitar o risco de um culto da
personalidade em torno do Papa Wojtyla. Mas os poloneses devem estar presentes
em grande número para comemorar seu santo herói.