13/03/2008

LEMBRETE
Cristina Fam
Adaptada de Laura E. Richards
Um homem estava sentado ao lado do caixão de sua companheira de vida inteira, triste e amargurado. De repente viu passar à sua frente um desfile de formas belas e brilhantes, leves, de lábios rosados e olhos claros de alegria.
- Quem são vocês, belas criaturas? – perguntou ele. E elas responderam:
- Somos as palavras que você poderia ter dito a ela.
- Ah, fiquem comigo! – implorou o homem. – Suas belas formas são como um punhal me cortando o coração, mas mesmo assim fiquem comigo, pois ela está fria e muda e estou sozinho, não tenho mais ninguém.
Elas responderam:
- Não, não podemos ficar porque não temos existência. Somos apenas a luz que jamais brilhou.
E foram embora.
O homem continuou triste e amargurado.
De repente viu erguer entre ele e o caixão um bando de formas terríveis, pálidas, de lábios brancos e olhos de fogo.
O homem estremeceu.
- Quem são vocês, formas horrendas? – perguntou ele. E elas responderam:
- Somos as palavras que ela ouviu de você.
O homem gritou aterrado.
- Saiam daqui, me deixem só! Melhor a solidão do que sua companhia! Mas elas se sentaram em silêncio, fixaram os olhos no homem e permaneceram com ele para sempre.