17/07/2008

O REI
Cristina Fam
O rei Baltazar deu um grande banquete aos seus mil aristocratas e diante deles tomavam bons tragos de vinho. Sob a ação do vinho Baltazar mandou buscar as vasilhas de ouro e prata que seu pai Nabucodonosor tinha tirado do templo de Jerusalém, para com elas beber o rei e seus aristocratas, suas mulheres e concubinas. Quando trouxeram as vasilhas de ouro e prata que tinham sido tiradas do tempo da casa de Deus em Jerusalém, delas beberam o rei e seus aristocratas, suas mulheres e concubinas. Enquanto bebiam vinho, louvavam seus deuses de ouro e prata, bronze e ferro, madeira e pedra. De repente apareceram os dedos de uma mão humana e iam escrevendo diante do candelabro, na parede do palácio, pintada de cal. Quando o rei viu a palma da mão escrevendo, ficou com o rosto lívido, os pensamentos perturbados, as junturas dos seus quadris como que desarticuladas, enquanto seus joelhos se entrechocavam. Em altas vozes o rei mandou chamar os adivinhos, caldeus e astrólogos. Tomou a palavra e disse aos sábios de Babilônia: quem souber ler esta inscrição e me der à interpretação, será revestido de púrpura e uma corrente de ouro será posta no seu pescoço e governará como terceiro do reino! Os sábios da corte acorreram em peso, mas não conseguiram decifrar a inscrição nem dar a explicação ao rei. Com isto o rei Baltazar ficou tão perturbado que mudou de cor, e também os seus aristocratas ficaram consternados. Nesta altura a rainha-mãe, alertada pelos gritos do rei e dos aristocratas, entrou na sala do banquete, tomou a palavra e disse: Majestade, vida eterna! Teus pensamentos não te perturbem e teu rosto não se desfigure. Em teu reino há um homem que possui o espírito divino e santo, e nos dias de teu pai Nabucodonosor havia nele uma clarividência, perspicácia e sabedoria a bem dizer divinas; por isso teu pai Nabucodonosor o tinha nomeado chefe dos magos e adivinhos, caldeus e astrólogos. Teu pai, ó rei, fez isto, já que nele, isto é, em Daniel, a quem o rei chamou de Baltasar, se achavam espírito exímio e ciência, perspicácia e perícia em interpretar sonhos, explicar enigmas e resolver problemas. Por isso seja chamado Daniel; ele dará a interpretação’. Quando Daniel foi introduzido na presença do rei, este tomou a palavra e lhe perguntou: “Então tu és Daniel, um dos deportados de Judá que o rei, meu pai, trouxe de Judá? Ouvi dizer a teu respeito que sobre ti repousa o espírito dos deuses, e que clarividência, perspicácia e sabedoria extraordinárias se encontram em ti. Agora mesmo mandei comparecer na minha presença os sábios e adivinhos, para que lessem esta escritura e me indicassem a sua interpretação; eles, porém, não são capazes de explicar o sentido. Ora, ouvir dizer de ti que és capaz de dar interpretações e resolver problemas; se agora conseguires ler a inscrição, serás revestido de púrpura, levarás uma corrente de ouro no teu pescoço e governarás como terceiro no reino.
Então Daniel começou a falar e respondeu na presença do rei: “Podes ficar com teus presentes e conceder a outro tuas regalias. Assim mesmo vou ler ao rei a inscrição e lhe dar a explicação.
Majestade! O Deus Altíssimo deu a teu pai Nabucodonosor realeza e grandeza, glória e honra. À vista da grandeza que Deus lhe tinha dado, todos os povos, nações e línguas tremiam de medo diante dele; ele matava ou deixava viver a quem queria, exaltava ou rebaixava a quem queria. Mas quando seu coração se tornou altivo e seu espírito se deixou levar pelo orgulho desmedido, foi deposto do seu trono real e lhe foi tirada a glória. Foi excluído da sociedade humana e seu coração se tornou igual ao dos animais; teve de morar com os burros selvagens e comer erva como os bois; seu corpo foi regado com orvalho do céu, até que reconheceu que o Deus Altíssimo é o soberano da realeza humana e pode elevar ao trono quem ele quiser. E tu, Baltazar, seu filho, não humilhaste teu coração, apesar de saberes tudo isto.
Antes te levantaste contra o Senhor do céu. Mandaste trazer à tua presença o vasilhame do seu templo, e tu e teus aristocratas, tuas mulheres e concubinas, tomastes vinho nestas vasilhas. Enquanto entoavas hinos aos deuses de prata e ouro, bronze e ferro, madeira e pedra, deuses que não enxergam, nem ouvem nem têm juízo, mas não honraste a Deus que tem em suas mãos a tua vida e todo o teu destino. Por isso foi enviada da parte dele aquela mão que traçou estas letras.
Assim soa a inscrição que foi traçada: Mene mene tequel u-parsin. E eis a explicação das palavras: Menê: ‘Contado’. Deus contou os dias do teu reinado e lhe pôs termo.


Tequêl: ‘Pesado’. Foste pesado na balança e teu peso foi achado em falta. Perês: ‘Dividido’. Teu reino foi dividido e entregue aos medos e persas!
Tradução de João Balduíno Kipper*

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