16/06/2009

VAI
Espedito Lima
Vai ao longo do ar que ele mesmo respira
E veste-se de água que pinga por perto
Sobre o vazio que ilude o semblante da luz
E ofega a mágoa que limpa o seu plágio

Vai o raso como a profundeza que rasga o abismo
Elevando-se como elegância que aguça um corpo
O tornando num esplêndido véu que o cobre
Mas ausenta-se de si como a sombra que passa

Vai elevando o cajado que fulmina o ódio
Relembrando a postura que varre o fiel
Lampejando o vaso que dobra a ciência
E esfrega a parede que esbarra seu ser

Vai o além que empurra a onda
Sob o céu que inunda uma vida
Clareando a pujança que jorra na terra
A vereda do hoje que inflama o amanhã

Vai à moldura que retrata o fel
Clamando pelo longe que sobeja por perto
Correndo no regaço que ama o vil
Escorando-se no ventre que rasga a flor

Vai o leme que grita sem voz
Enfurecendo a noite que baila de dia
Brincando no campo que volta sem ir
E chora sorrindo e canta o velar

Vai o rio que desce do ar
Espalhando o suor que cansa o falar
Abrindo o manso que ouve sem visão
Visando a fama que nunca chegou

Vai o ficar do ir e a sombra do vem
A volta do ser e a lembrança do mal
O juízo que mostra a face do bem
No encontro que rega a cruel esperança