16/07/2008

LEALDADE AOS PRINCÍPIOS
Cristina Fam

“OBSERVA UM HOMEM EM MEIO À DÚVIDA E AO PERIGO, e saberás, nessa hora de adversidade, o que ele realmente é”, escreveu o filosofo romano Lúcrecio. “É então que as expressões sinceras são arrancadas dos recônditos do seu peito. A máscara é arrancada; resta a realidade.”
Algumas pessoas têm uma vida mais cheia de problemas que outras. Mas não se iluda: todas as jornadas de vida passam por trechos ásperos. Todos somos testados e chamados à ordem. Existirão ocasionais percalços na estrada, surpresas desagradáveis, atrasos irritantes, acidentes e enganos que aborrecem. Dias em que tudo dá errado, (“Quando vêm tristezas, não vêm isoladas como espiãs, mas aos batalhões”, observa Shakespeare em Hamlet.) há momentos em que o mundo inteiro parece estar desmoronando. A adversidade ocupa uma boa parte da vida, e, quanto mais cedo aprendemos a lidar com ela, mais suave flui a nossa vida.
Ajuda a nos prepararmos para as ocasiões em que o caminho fica de repente mais íngreme, a estrada mais pedregosa, o vento e a chuva nos batem no rosto e uma parte de nós deseja mais que tudo, voltar atrás. Nessas épocas, para se manter a firmeza de princípios, quase todas as virtudes do arsenal podem ser exigidas – perseverança, coragem, autodisciplina, responsabilidade, atividade e integridade. Também pode-se recorrer à lealdade e amizade de alguns bons companheiros, além da fé em Deus, para atravessar a batalha.
A fama de alguns se deve ao modo como agüentaram firmes, leais aos princípios, em tempos de crise. Outros são pessoas comuns que deram um passo à frente para enfrentar os testes da vida, que todos deveremos encarar. Aqui vemos pessoas mantendo-se firmes nos postos, agarrando-se aos compromissos, apesar de a tentação lutar para desviá-los. Testemunhamos pessoas que conquistaram a vitória com pequenos passos, atacando as tarefas pouco a pouco. Descobrimos que, às vezes, o único modo de sair de uma enrascada é simplesmente trabalhar com afinco. Observamos que tal é abrir uma trilha difícil, nunca antes percorrida. E aprendermos a encarar situações muito penosas, nas quais certamente a perda e a dor nos aguardam mais à frente.
É claro que virtudes como a perseverança e a coragem devem ser guiadas pela sabedoria prática. Deve-se ter a habilidade de reconhecer quando é a hora certa e saber o que fazer para manter sua posição.
Os golpes da adversidade podem ser excelentes chances para melhorar. “A pedra não pode ser polida sem fricção, nem o homem ser aperfeiçoado sem provação”, diz um provérbio chinês. Todo sucesso real, todo prêmio que vale a pena provavelmente será conquistado à custa de alguns fracassos.
O teste máximo, entretanto, não é se finalmente alcançamos a meta, mas como nos conduzimos durante o processo. Se às vezes o caminho é íngreme demais para prosseguirmos até o topo, devemos acreditar que o esforço em si valeu à pena e nos preparar para novos testes, sabendo que, como o clérigo Henry Ward Beecher disse há mais de cem anos, “estamos sempre na forja, ou na bigorna; através das provações, Deus está nos moldando para propósitos mais elevados”.

DO LIVRO DAS VIRTUDES
O COMPASSO MORAL
WILLIAM J. BENNETT