11/01/2009

DEGA
Cristina Fam

Quando o vento, ou alguém joga, outro espalha, a areia que antes não estava agora espalha corrente puxada, reco-reco calado, Maria partiu. O fogão prepara o rango do caboclo.

Os livros bons elevam o homem, o verão queima a barriguda, Dega coloca a carroça na calçada, o burro sabe da hora, do trabalho, com quinze anos a muito já debutou. A estrada é o mesmo seu caminho conhece desde muito, o verão queima a pastagem, a lida começa não há férias, a lã da flor é levada pelo vento seu destino desconhecido. O leite é doce, o banco não quebra por excesso de fundo, o balde recebe, tudo conforme a música.
Inverter a veneração defeituosa da pobreza da política é coisa pra cidade grande, a miopia causa cegueira, liberta a paixão, a fraqueza enxerga a guerra o crime e a loucura.

A frieza amolece a moleira, a escrava branca criada na senzala da roça, mimada por escravas alforriadas, cresceu defeituosa, sem educação intelectual, ganha e perde poder. A monstruosidade das coisas é saldo negativo do presente; o mais grosseiro do revés atrai o passado, sem cor nem brilho; opaco.

O macaco pula de galho, a preguiça devora folhas, o louco a língua, atrevidos e covardes, guarda no bolso de trás imaginação corrompida, sua inocência pervertida. Tira papel; ai está o destino de muitos. Simples decisão sem preparo, nem experiência a trupe trai, fazendo do circo o pior dos picadeiros.

Certos atalhos sem caminho; sobra à sela, montaria para poeta social buscando futuro sem presente nem passado.

A escrava criada no coxo livre, aliciada no desperdício da orgia, sede espaço para outra. Sem luz, podre na feia fantasia, sem cheiro, aguarda o branco da pedra fria, por cotovelo descanso segura o cabelo que cai da cabeça. Da incerteza moldou a mentira, lhe sobra e cobra a sabedoria espalhado entre massas que o diabo definha. É a gola e o cinto que incomoda além das mãos a boca abre para a comida fria ou quente, ria.

Invertida ação, somente Dega conhece os passos da vida, o andarilho conhece de perto o trabalho, admira o amigo forte que não despreza os menores. Ensina e aprende que; o trabalho faz parte da vida, politizado, civilizado, generoso, experiência de quem viveu em outra década. Sua música vibra, já não há jasmim na jarra, escorrega a raça confusão nas coisas papeis invertidos. Quem viveu conheceu outra melodia num vaivém gostoso, por ora; pula com desgosto da batida pondo perigo na alma. Admiração por alheio sinal de queda adoece o cão invejoso.

Dega trata com carinho seu cão ferido; a esfinge guarda a terra prometida, esconde seu tesouro. Muitos causos, admiração, olhar inteligente, perspicaz, dono da bondade, tem vontades. Escuta com atenção, demonstra paciência, anda firme sabe aonde chegar, espera evolução; está de luto.

Na madrugada com Dega
Conversa da hora.
Jan/2009.