Sem água, sem alma
Cristina Fam
Na cidade grande o semáforo, no interior o remédio, e a justiça a quem serve?
Chega o verão, sofre a criação, medo do nada ainda assim se basta, junta amigos espalha cantoria, é tempo de alegria, a rocha é cortada vai surgir mais benfeitoria, parte a mãe e a amiga, deixa para trás saudade.
A pomba solitária busca migalhas, o pirata encostado na parede descansada noite movimentada, segue a carroça, mas é tempo de seca, já o carro de boi faz três viagens, o cantar da roda lembra gemido surdo no coração do matuto, falta água no sertão de Jeremoabo. Embora, ainda, se vive sem água, para muitos a falta é lamento, para “algum” divertimento, nem Juscelino deu jeito, Luis Gonzaga que tanto cantou a seca do sertão, deixou o exemplo. O homem ainda passa sede, é só lamento.
“Quero chorar guando morre uma novilha”, - e chora lá se foi à pequena economia. Lamenta, mas, não pragueja. Viver “na terra dada por Deus, é um presente, até os vizinhos”, “é jogado pra perto de nois”.
Mas a seca é causa do homem malvado, desalmado. Espera o sertanejo um iluminado para resolver as coisas d’água. Escutar bolodoro (discurso) de cabra grande é fácil, difícil mesmo é guardar as besteiras de doutor formado em banca, sem experiência de vida no sertão chega e bota banca “é sabido”!
Lampião conhecia cada palmo desse chão sem aparelho nem falação, cabra macho do sertão, já, os almofadinhas; tem tudo na linha, pra quê? Pra prestar conta pro mundo ver e mostrar a incompetência do vagabundo letrado diplomado na vadiagem.
Mas para que serve a justiça, pode o caboclo passar sem ela, mas água que é bom mesmo não vem da justiça. Espera sentada segue adiante, é tempo de seca, o verão leva a alma do gado.