14/07/2009

Espedito Lima
Vi uma estrela que passeava nos céus e de lá irradiava a desesperança de uma terra e de um povo que clamava por sua felicidade, mas que não se cansava de erguer os braços para abraçar o horizonte que se encontra turvo, e abre-se um poço a caminho de um abismo devastador.

Vi um vácuo que dominava o desejo de um consolo e que andava com asas, assim como aves que mapeiam a razão insólita do entardecer, cobrindo-se do manjar que era derramado sobre o holocausto realizado num culto, tal qual a purificação irreal de um corpo que se encontra atormentado.

Vi um arauto que agarrava pessoas flutuantes a busca de um sossego, face a gemedeira de um grupo de gritantes, desesperados com as lágrimas que tentavam lavar suas culpas, mas eram cobertas de chagas purulentas que se abriram sobre um véu que a nada nem a ninguém cobre.

Vi coisa parecida como um vulcão, que explodia ao redor daquele pedaço de terra que outrora fora lançado do alto, como o sopro do vento que segue sem direção, ao encontro do nada e se encontra com alguém que o destrói.

Vi uma tempestade que desabou sobre ela e mesmo em meio a um pesadelo, enxerguei algo que me apavorou; um terremoto que lhe abalava, causando estragos de toda forma, desde sua elevação até a entrada do córrego que a leva ao precipício.

Vi um arco-íris que diametrava o espaço que ocupava ao seu redor e lançava cores diversas que enfeitavam os prédios de suas ruas, largas e estreitas, enfurecidas pela desordem dos seus trafegantes e transeuntes, normais e anormais, sem visão e sem vida.
Vi eles querendo mandar, sem poder chegar ao poder, mas os seus súditos os queriam como imperadores e reis, sem coroas e sem tronos, julgando e subjugando eles mesmos e os lançando de alto a baixo, como morcegos que sugam sangue, mas não o bebem e mesmo assim o vomitam.

Vi luzes que lhe clareiam e anunciam a competição que vale a conquista de um poder; que vão a uma, duas e três léguas, danificando a estrada do bem e escancarando a valsa que faz dançar os destroços de sua ação, movendo a palha que varre o seu lixo.

Vi eles escondidos, planejando o assalto aos seus moradores, sem avisá-los que lhes causariam o sinistro dos cofres e dividiam os tributos, como se fossem fatias de bolo oferecidas a adultos num aniversário de criança realizado à tarde, indo até altas horas da noite para não serem perseguidos.

Vi elas que tentavam dominar os seus “amos” os seduzindo para que abrissem o caixa de suas jóias, completamente ornadas de impureza que jogavam sobre a assistência social que tanto pregam e veste a singeleza de mães, filhos e desamparados pelo poder que deram a elas, com se tivessem realizando algum ato caritativo fortuitamente.

Vi os aflitos e os sofridos correndo atrás deles, mendigando seus salários, suas férias e seus décimos; mas suas promessas foram amargas como o fel que é oferecido num ritual diabólico, cujo prato preferido é o fogo e o sal que consomem suas carnes, como os abutres devoram corpos dilacerados.

Vi a terra que está sentada sobre um vale, cuja enxurrada, ao descer, lhe arrasta e lhe destrói assim como os que lhe habitam, sem chance de nenhum socorro, a tempo de serem salvos e sem que eles, seus chefões, tenham piedade dos que são pisados por eles e esmagados por suas loucuras.
Foi-se a terra!