08/09/2008

ESTOU RUINDO
Espedito Lima
Falaram-me, eu não quis acreditar; mostraram-me, eu não quis ver; admoestaram-me, eu não quis ouvi; chamaram-me, eu não quis ir; lançaram-me, eu acreditei; jogaram-me no chão, eu não levantei; pediram-me, eu não me calei.
Parece que minha vista está começando ficar embaçada e os meus ouvidos já não escutam nada; minhas mãos tremulam, minha voz cala e meus passos tropeçam. A que ponto cheguei! mas foi eu mesmo que plantei, por isso devo colher o bom que se foi e o ruim que hoje existe contra mim.
Fui ingênuo igual uma criança que se engana; mas fui adulto em querer o que não posso, pois sou impedido na minha caminhada; estou numa encruzilhada que ao invés de abrir, fecham-se todos os caminhos. Mas insisto e não vou parar; não posso mais fazer isto, porque já fizeram por mim.
O meu destino é incerto, minha história a escreveram sem a minha lealdade e o livreto que devo editar, a sua tiragem me julga e me condena tal qual um inocente culpado, cuja inocência me revelou a culpa que sobrecai em mim. E eu sei...
E agora, que fazer? Só me resta não querer. O meu passado é o presente e o meu presente não é o futuro. Esfacelei-me e estou ruindo rapidamente. Que situação! Minha mente não suporta mais o meu pensar e o meu desejo já não mais anima a minha ansiedade. Tudo está ruindo; tudo me ilusiu, razão porque fui vítima, sem saber e sem querer, de um laço que agiu traiçoeiramente contra mim.
E todos são amigos: os de ontem e os de hoje; é isto que eles dizem, mas não agem como falam, nem falam quando agem. Estou no centro de tudo, porém nem tudo me joga no centro, porque não vivo a efervescência da razão, mas o espírito engana-me e tende a me lançar no abismo que eu não vejo e nem sei onde fica.
É tarde, eu vou embora. Aos que me querem, um forte abraço; aos que são contra mim, a minha alegria; aos que choram por mim, o meu consolo; aos que me odeiam, a minha esperança e aos que prezam pela minha vitória, a minha derrota. Estou derrotado. Até breve, se puder.