09/09/2009

Basta um olhar
Cristina Fam
Enquanto penso o anjo toca a trombeta imponente do alto da torre, era uma manhã de qualquer dia, deste ano, o sol reflete seus raios dourados, contraste, embaixo o rio (poluído) que serpenteia carrega flutuante planta aquática, água que banhou a sede de gerações, seu leito negro tem cheiro de morte.

Basta um olhar, existe um mundo mudo e barulhento, o silêncio gritante dos jovens falando com as mãos, a terceira chega para impor sua autoridade, gestos agressivos apaziguam a querela. Observo o grupo fico perplexa com a habilidade, soa jovens mudos encostados no muro, sigo refletindo é uma visão distante entre mim e essas criaturas, havia tanta brutalidade e intimidade no falar sem escutar, atormentada liberdade, espiando a luz que brilha nos olhos penetrantes, não há como fugir; sem ser cruel entender, jamais julgar, tamanha diferença. O grito que muda o curso da vida, nem ouvi, foi silencioso e barulhento, sem entender, procurei discretamente escutar, enquanto isso, ao lado toca a sirene já não existe a fabrica, veloz passageiro que atravessa passam em agonia.

No batente da porta o jornal, que diferença faz as notícias com novas palavras embora “traga” o velho, igual fumaça sem fogo na há nenhuma mudança, ou, esperamos algo novo, acomodados estamos, alienamo-nos.

Ainda na rua diferença, indiferença plena cruza a luz do dia sem as cores, tudo muda praça habitada por mendigos, crianças e pombos, alheios a quem passa nada e muito por fazer, esperar uma distração é parte da tristeza; saudade, solidão sem união ao mesmo tempo dessas criaturas repartindo o que é jogado da janela de um carro em movimento, a fome não pode esperar. Uma profunda tristeza invade, levo-os comigo, carrego-os, é o coração quem decide triste e fascinante abriga uma dor que invade dentro do peito, toma seu lugar no tribunal; basta seguir adiante tem muito mais tristeza no caminho, é um pequeno pedaço da cidade grande, é um flagelo humano, fumaça cinzenta, fuligem negra nas crianças descalças; civilizados humanos que alimentamos a miséria.

Recife, 2009- qualquer dia.